La Grande Dame -

La Grande Dame

Coluna • 2 de julho de 2012 • Wagner Beethoven

As coxas são grossas e rijas, tantos homens já as sentiram tapando-lhes as orelhas.

Ela é luxuria em carne e vida. Escolhe quem vai ser, onde vai ser e quando vai ser. A dama faz de qualquer leito prazer, com seus modos de dominatrix. A morte da luz faz com que ela desponte no solo mortal com um vestido de textura fina, cabelos de cachos perfeitos e pés equilibrados em gigantescos salto agulha.

A noite é d`Ela. Entra e escolhe a vítima. Depois sai furtivamente para que o escolhido a siga.

– Cale-se!

– Mas, mas…

– Mas porra nenhuma. Quero pensar que estou transando com um morto. Fique estático como um defunto. Quero você gelado!

Ela nunca fez questão de esconder que era vidrada em álcool. Estava bebendo antes, durante e depois do sexo. Quando acabava, pegava a garrafa e olhava o rosto do jovem. E costumava dizer em alto e bom som:

– La Grande Dame. Veuve Clicquot, 1979.

Depois cantarolava bizarrices.

Eu nunca entendi porque o coitado do Sebastian era feito de morto e com os outros gritava e fazia selvagerias. Não importa, no fundo. Ela nos abandonou. Foram mais de dois anos sem a sua presença.

Só voltou a aparecer depois de que um vizinho novo chegou. Logo fez amizade com os pais do garoto. Assistia todos os ensaios de piano do menino surdo, pálido e com cabelos dourados e desgrenhados.

Certa noite o púbere se viu só – a sua maior espectadora não tinha ido…

Ela havia reservado algo para o tenro pianista. Já tarde, abriu vagorosamente a porta e ficou de pé para o menino. Deixou o seu vestido cair e colocou na sua boca um grande gole de champanhe. Levo-o ao chão calmamente e pôs a mão no ombro do franzino rapazote.

Na manhã seguinte, sorriu do concerto que havia preparado por tanto tempo, e novamente desapareceu.


Texto originalmente publicando no site: coccarelli.art.br