Quando éramos analógicos -

Quando éramos analógicos

Coluna • 7 de junho de 2010 • Rodrigo Freitas

Nestes dias que correm, para ser uma pessoa bem sucedida e popular nos mais diversos círculos sociais não basta apenas ser amigável e divertida, é necessário, fundamental diria eu, estar conectado.

Internet, e-mail, MSN, Orkut, Twitter, Facebook, Tumblr, Skype, MySpace… Dezenas de acrônimos, anglicismos e palavras muitas vezes impronunciáveis para qualquer pessoa com mais de trinta anos, passaram, em menos de dez anos, de curiosidades e esquisitices restritas aos círculos formados por nerds e geeks a ferramentas obrigatórias para qualquer um que se autodenomine “descolado”.

“Ola quer tc?” e “me add”, mais do que provas cabais de como nossa língua pátria está sendo dilapidada pelas gerações mais novas, são frases que retratam o quão presente em nosso dia-a-dia as diversas tecnologias sociais estão. Dia desses uma amiga me contou que percebeu um rapaz olhando-a atentamente. Quando ela menos esperava o rapaz sacou um caderninho, rabiscou alguma coisa e mostrou a ela…

… Era uma cantada. No caderninho estava escrito o seguinte:

“Seria muito atrevimento perguntar seu nome / e-mail / MSN ? SIM / NÃO ?”

Pois é. Dez anos atrás, o mesmo rapaz teria que juntar coragem, se aproximar, garantir que não estava fedendo, suando ou que estivesse com mau hálito e, gentilmente e com toda sutileza necessária, perguntar o nome da moça e inventar alguma conversa furada para, quem sabe, ganhar o telefone da donzela. Eu mesmo me lembro que certa vez – há alguns anos e numa época pré-MSN – fiquei embasbacado por uma menina que atendia no balcão de uma lavanderia perto de onde trabalhava. Tive tanta desenvoltura e habilidade para conversar com ela que só consegui perguntar o seu nome três dias depois! Vejam só, se existisse MSN e eu tivesse um caderninho…

O fato é que as várias redes sociais vieram pra ficar e para ajudar a melhorar nossas relações. É comum uma pessoa cujo número de amigos no mundo real possa ser contado nos dedos de uma mão tenha centenas de amigos no Facebook e interaja com eles tanto ou até mais do que com os amigos de carne e osso ao seu lado. Vejam só: não fossem as tais ferramentas, eu mesmo não estaria escrevendo aqui hoje!

Se você quiser ser um descolado atual, também deve estar atento as novidades que aparecem: a mais nova sensação atende pelo nome de chatroulette. Basicamente, é a versão online dos speed dates norte-americanos, aqueles encontros onde um monte de homens fazem um rodízio, se sentando frente à muitas mulheres a fim de procurar potenciais parceiras baseado nas características que você consegue apurar em poucos minutos. Bem, na verdade o chatroulette é um pouco diferente disso, mas o seu conceito me parece igual aos speed dates: você entra na página do programa, liga sua câmera e em poucos segundos está vendo e conversando com uma pessoa completamente desconhecida que pode estar na Groenlândia!

Claro que, com uma câmera na mão e uma perversão na cabeça vocês podem imaginar o que aconteceu rapidamente com o chatroulette

No fim das contas, mesmo com todas as facilidades que a internet e suas ferramentas trouxeram, mesmo com todas as possibilidades que se abrem sem as barreiras físicas e de distância, confesso que às vezes me bate uma saudade de quando vivíamos num mundo mais… analógico.