O "adeus" de Teresa, de Castro Alves
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus…
E amamos juntos… E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhea tremer co’a fala…
E ela, corando, murmurou-me: "adeus!"
Uma noite… entreabriu-se um reposteiro…
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus…
Era eu… Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa…
E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"
Passaram tempos… séc’los de delírio
Prazeres divinais… gozos do Empíreo…
… Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse — "Voltarei!… descansa!…"
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"
Quando voltei… era o palácio em festa!…
E a voz d’Ela e de um homem lá na orquesta
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!… Ela me olhou branca… surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!…
E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"
Antônio Frederico Castro Alves (1847-1871) nasceu em Curralinho, hoje Castro Alves, interior da Bahia, e morreu em Salvador. Estudou Direito em Recife e depois em São Paulo. Destacou-se como poeta revolucionário e declamador eloquente, assim como grande autor de poemas líricos amorosos, com uma visão menos idealizada e mais sensual do amor e da mulher. Morreu aos vinte e quatro anos, após uma vivência boêmia. Entre as suas obras em poesia, indico Espumas flutuantes (1870) e Os escravos(1883).
Em O “adeus” de Teresa, Castro Alves renega o amor clássico, moral, já que Teresa se entrega a uma nova paixão. Esse tipo de amor, no poema, é suplantado por um entendimento de um amor mais carnal, que diferencia o escritor do protótipo do poeta romântico.