Lope - Cena de Lope, direção de Andrucha Waddington (Foto: Divulgação)
Cena de Lope, direção de Andrucha Waddington (Foto: Divulgação)

Lope

Matéria • 7 de novembro de 2011 • Pedro Américo de Farias

Biografia romanceada do grande poeta e dramaturgo Felix Lope de Vega (1562 – 1635), primeiro a juntar, numa mesma peça, os gêneros comédia e tragédia e que se pode admitir como fundador do teatro clássico, no chamado Século de Ouro espanhol. Uniu o tradicional e o renascentista, dando forma a um teatro literário e popular.

Lope de Vega, exímio espadachim, obstinado pelo reconhecimento do seu talento de dramaturgo, homem de tempestuosa vida amorosa, amou muitas mulheres, teve 14 filhos, perturbou bastante a hipocrisia da Corte e sua aliada Inquisição, sofrendo por isso pena de exílio, no fim do qual, voltando à Espanha, tornou-se simpatizante do sistema inquisitorial.

O filme Lope, de Andrucha Waddington, está longe de ser uma obra prima. Seria mais apropriado considerá-lo um desses que, com ou sem a pretensão de sua equipe criadora, segura uma plateia atenta e suspensa do começo ao fim. Se por um lado contraria o gosto dos cinéfilos iniciados, por outro, atrai e segura a atenção do público mais interessado num enredo de feição novelística tipo aventura de capa-e-espada. Afasta-se, em alguns tópicos, da história real do personagem-título, por exemplo, quando cria um triângulo amoroso inexistente: Lope/Helena e Isabel, mas não perde a verossimilhança e apimenta o fundo de aventura que o filme certamente deseja e consegue oferecer ao público.

Exceto pela participação de Sônia Braga, inexpressiva e descartável no papel de mãe do poeta (ainda bem que morre no começo), o elenco traz excelentes atores e atrizes, com destaque para o argentino Alberto Ammann (Lope),** Pilar López de Ayala** (Elena) e** Leonor Watling (Isabel),** que constituem o fictício triângulo amoroso, além de Juan Diego (Velázquez, dono e diretor de teatro e pai de Elena), Luis Tosar (Frei Bernardo), Selton Mello (Marquês de Navas).

O filme foi rodado na Espanha (Toledo) e no Marrocos e segundo Andrucha o seu enredo contém 90% de real e 10% de “licença poética”. Acredito que essa ‘licença’ tem presença percentualmente muito mais significativa. Seja como for, para mim, simples apreciador de cinema, o resultado é bastante satisfatório. Gosto do filme, como gosto do belo poema Definición del amor, apresentado na cena final, quando os exilados Lope e Isabel cavalgam nos campos de Valencia:

Desmayarse, atreverse, estar furioso,
áspero, tierno, liberal, esquivo,
alentado, mortal, difunto, vivo,
leal, traidor, cobarde y animoso.

No hallar fuera del bien centro y reposo,
mostrarse alegre, triste, humilde, altivo,
enojado, valiente, fugitivo,
satisfecho, ofendido, receloso.


Huir el rostro al claro desengaño,
beber veneno por licor suave,
olvidar el provecho, amar el daño.


_Creer que un cielo en un infierno cabe,

dar la vida y el alma a un desengaño,
esto es amor; quien lo probó lo sabe.