Vida: uma peça sem ensaios -

Vida: uma peça sem ensaios

Coluna • 22 de agosto de 2012 • Mirthyani Bezerra

Eis que nas primeiras páginas do seu clássico de 1982, “Insustentável leveza do ser”, um tal de Milan Kundera me dá um soco na cara. “Não existe meio de verificar qual é a decisão acertada, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso que leva a vida a parecer sempre um esboço.”

Volta e meia me sinto no lugar daquele ator que entrou em cena sem ensaiar. Faltam falas, sobra o improviso e um monte de escolhas a serem feitas. Vestido ou short? Pizza ou salada? Fácil ou difícil? Terminar ou recomeçar? Como boa libriana, não sou a rainha indecisão. Apenas superestimo as escolhas. É que a escolha errada tem o poder de martirizar.

Mas como saber exatamente se determinada decisão foi a certa? O sábio Kundera pondera: não tem como, afinal, a vida é um eterno esboço. Ou melhor, esboço não, já que o termo remete a um projeto, algo que poderá ser concretizado, retiradas as imperfeições. Acontece que a vida é imperfeita mesmo, e decisões equivocadas é parte essencial dela. É a partir de escolhas erradas que aprendemos a acertar… elas nos fazem amadurecer.

Se não tivesse colocado o dedo no ventilador, quando bebê, nunca saberia o perigo aquele ato. Escolher filar na prova em vez de estudar, pode até ter me rendido um zero na segunda série e um puxão de orelha de mainha, mas me ensinou a conquistar bons resultados com o meu próprio esforço. Terminar um relacionamento longo pode ter molhado o meu travesseiro de lágrimas, mas me fez olhar a vida por outra perspectiva. A dor e o choro foram essenciais em todos esses momentos. Já dizia Vinícius de Morais, “se não tivesse o amor, se não tivesse essa dor, se não tivesse o sofrer e se não tivesse o chorar, melhor era tudo se acabar”.