O axé elucubrado das Olinda - Noite cotidiana na cidade alta em Olinda
Noite cotidiana na cidade alta em Olinda

O axé elucubrado das Olinda

Coluna • 2 de julho de 2012 • Mirthyani Bezerra

Descer as ladeiras de Olinda, rumo à Praça do Carmo, depois de ter ingerido certa quantidade de cerveja e Axé (Ô bebida maldita!) não é uma tarefa das mais fáceis. E se a façanha for executada por uma forever alone qualquer, recém saída do Aloma, Juvenal ou Gentileza, é bem capaz da pobre pessoa chegar acidentada na avenida principal e ter que pegar o bacurau mais cedo. Por isso, toda assídua frequentadora da aura boêmia da Cidade Alta (não vou dizer ‘Original Olinda Style’, porque odeio rótulos) vai e volta acompanhada das “azamiga” dos bares de cima em direção ao Xinxim da Baiana.

É nesse meio caminho andado que repercussões de acontecimentos começam a ser discutidas. Nas vezes em que o nível de álcool no sangue ainda está baixo, as conversas são mais variadas, passando de lembranças da balada do final de semana anterior às últimas novidades sobre as noites gastas com o paquerinha no Facebook. Até ai nada demais. A bronca é quando já foram tomadas várias garrafinhas de Axé (aquelas de três contos). O papo fica mais sério, porque dor de corno não se esquece, fica guardada em algum lugar do coração esperando uma oportunidade para se mostrar e o Axé (Crê em Deus Pai!) proporciona o momento oportuno.

E dor de corno todo mundo tem. Existe sempre aquele carinha especial que te levou para as nuvens e depois te fez perder o chão. Lembrar dele, nesse momento, é inevitável. Até porque ele nunca foi realmente esquecido, pois quem marca permanece dentro de nós, das nossas lembranças, para sempre. E se inicia o momento deprê em que lágrimas podem até jorrar dos olhos. Há quem relembre todos os relacionamentos frustrados, os foras que levou, os homens “lobo em pele de cordeiro” em que caiu na besteira de se envolver emocionalmente, aquele cara que só liga quando não tem mais opções disponíveis e, mesmo assim, a apaixonada incorrigível ainda morre de amores, etc.

Mas esse momento não dura mais do que 15 minutos. Porque a noite deve ser de festa, de alegria. Passados os instantes de exaltação à baixa auto-estima, é hora de dar o último gole de Axé, levantar a cabeça, enxugar as lágrimas (no caso das mais emotivas) e seguir em frente, tanto na vida, como em direção ao Xinxim da Baiana, onde a cerveja está cara, mas ninguém consegue deixar de ir, nem que seja para dar uma passada e olhar o movimento.


Mirthyani Bezerra é jornalista, letrista e vocalista da banda Clube do Acaso.