Joanna Maranhão: mártir ou vilã? - Joana Maranhão (Foto: Divulgação)
Joana Maranhão (Foto: Divulgação)

Joanna Maranhão: mártir ou vilã?

Coluna • 8 de setem bro de 2010 • Manuella Bezerra

Tem uma coisa boa na vida de quem vive no mais do profundo anonimato. A potência do julgamento é reduzida. Quando mais nova, eu até tinha vontade de ser uma atleta olímpica. Ou atriz, quem sabe. Quem tem este tipo de sentimento, normalmente, não quer ser mais um entre tantos do planeta. São pessoas intensas, que tem a necessidade de fazer a diferença. Mas esta opção pode ser, também, muito cruel.

Certo dia, navegando em uma página de redes sociais, postei um comentário sobre a nadadora pernambucana Joanna Maranhão, que, na ocasião, estava em Brasília acompanhando a CPI da Pedofilia. Há alguns anos, a atleta revelou publicamente ter sido abusada sexualmente pelo ex-treinador, Eugênio Miranda, quando tinha somente nove anos. Em 2009, a esportista foi, inclusive, homenageada, com uma lei com seu nome: a Lei Joanna Maranhão. E o primeiro retorno após o meu comentário, de um colega de trabalho, radialista, afirmou publicamente que a presença dela na CPI era mais um ato de quem queria aparecer e voltar para a mídia.

Desde nova acompanho a carreira da nadadora pernambucana Joanna Maranhão. Ela é um pouco mais nova que esta colunista que vos fala. Lembro bem que estive engajada em um movimento para estimular o voto aos 16 anos. Joanna estava pra fazer 16 e, sempre com aquele perfil de demonstrar muita atitude, cotamos – a coordenação desta campanha – a atleta para estrelar a campanha. Depois, nem sei por que, acabou não acontecendo. Mas a partir daí sempre prestava atenção nos passos daquela, até então, menina.

Considerada uma das mais competentes nadadoras da história deste País, a vida da atleta nunca foi das mais paradas. Logo cedo conquistou títulos expressivos, mas era conhecida na imprensa por ter o temperamento forte e por sua intempestividade. Depois da polêmica do abuso sexual, principalmente em Pernambuco, o maior talento do desporto pernambucano já visto na história foi ridicularizado e hostilizado por muitos. Lembro bem que, por parte dos advogados do suposto abusador, o principal argumento foi “Ela não tem ido bem, não foi bem nos Jogos Pan-Americanos e teria feito isso para desviar as críticas da sua atuação e voltar a ocupar espaço na mídia”, afirma Mendonça.

De fato, não se sabe o que aconteceu quando ela tinha nove anos. Mas a pergunta é: Porque a reação imediata de todos é alegar que a pernambucana estaria mentindo? O que faz parte da imprensa não lhe dar a mínima credibilidade no que diz? Seu temperamento forte? Temperamento forte tenho eu.
E será que o preço da exposição pública valeria o desgaste somente por mídia? O fato é que se trata de uma garota. Uma atleta de alto rendimento de 20 e poucos anos. Com sonhos, frustrações e história de vida. E que deu muitas alegrias ao desporto nacional.

Atualmente sou setorista de natação em um jornal de grande circulação em Pernambuco. Vez por outra tenho contato com a dita-cuja. E o que sinto na voz e vejo nos olhos dela é somente o brilho de uma menina que precisa mostrar solidez e firmeza para esconder os sofrimentos e injustiças. E que precisa provar para todos que é, sim, um dos grandes mitos que o esporte nacional já produziu.

Se, de fato, aquilo aconteceu ou não, nunca ninguém vai ter certeza, exceto ela mesma e o acusado. Mas do jeito que o mundo anda feio, o que faz pensar que isso possa não ter acontecido? E do jeito que o mundo anda feio, porque é ela, imediatamente, a grande vilã? Joanna tem potencial para grande mártir. Mas eu não quero estar aqui para ver o dia. Prefiro ver, agora, no final do mês, ela trazer mais uma medalha no Sul-americano de natação.