A desgraçada da pomadinha
Tudo bem. Ok. Esta coluna, coitada, andou mesmo abandonada nas últimas semanas. Mas eu juro que tenho uma justificativa totalmente aceitável, meus caros queridos quase-100-milhões-de-leitores que acessam minhas mal traçadas linhas semanalmente.
Tive uma baita crise de tendinite-aguda na mão esquerda. Por esse motivo estive com meu membro superior imobilizado por quase 15 dias. Aí, depois, em seguida, confesso que acabei me enrolando pra entrar no ritmo outra vez.
Repentinamente amanheci com a mão inchada. Nem conseguia mover os dedos. Corri na emergência do hospital e o médico falou que eu tinha uma tendinite aguda devido a uma lesão por esforço repetitivo, conhecida como LER. Como assim? Mas pelamordedeus, esse definitivamente é um mal que eu não posso sofrer. Afinal, minhas mãos são o meu instrumento de trabalho. Mas ora, é justamente por isso que veio a tendinite e, agora, vou precisar fazer uma boa fisioterapia para que não voltem as lesões.
Essa crise de tendinite acabou me fazendo refletir. Em qualquer que seja a modalidade esportiva é preciso repetir movimentos continuadamente. Somente este ano, dois atletas pernambucanos sofreram por conta de lesões que interferiram diretamente nos resultados finais em competições importantes. A nadadora Etiene Medeiros trata desde o mês de maio de uma lesão no joelho que a surpreendeu as vésperas do Open de Paris, pouco antes também de sua estréia no Mundial de Roma – competição mais importante do calendário anual da natação – interferindo diretamente no resultado final da competidora, principalmente na prova dos 100 metros costas, de maior distância e para a qual ela precisa se preparar para os Jogos Olímpicos de Londres. Por causa disso, a atleta precisa cuidar do problema até hoje para que não volte a acontecer. E tome gelo, massagem, fisioterapia: uma rotina. O Mesmo aconteceu com o maratonista Ubiratan José dos Santos. O joelho também foi afetado e o problema o tirou vitórias importantes este ano.
Problema é que na minha situação, eu pude me entupir de antiflamatório e a lesão cedeu com maior facilidade. No caso de esportistas de alto rendimento, neguinho toma um comprimidinho desse e corre o risco de passar anos banido da modalidade. Sem contar na exposição pública, que costuma condenar atletas pegos no doping como quase viciados a beira da internação.
Maior exemplo é a pobre da Maurren Maggi, coitada. Uma matéria publicada pela revista Época no dia 29 de julho de 2003 diz que o exame de laboratório havia indicado presença de uma substância esteróide anabolizante. Expulsa da Confederação Brasileira de Atletismo e excluída dos Jogos Panamericanos de Santo Domingo, Maurren passou três anos garantindo que utilizou, apenas, um creme cicatrizante em uma sessão de depilação um dia antes do teste que acarretou no maior drama da sua carreira. E que o tal creme em contato com o organismo teria produzido um metabólito de um esteróide anabólico. Mas, cá entre nós, vamos combinar. Pomadinha desgraçada, viu? A atleta já precisa correr, saltar e embolar na areia com um maiôzinho. Fosse técnico dela, de fato, não tinha cara de pedir para ela fazer isso cabeluda.
Acreditando ou não da defesa da saltadora, o tempo que ela foi banida esteve rechaçada e apontada pelo desporto nacional. Foi mãe, e a maternidade dá uma fibra para a mulher que a gente não sabe de onde aparece a bendita. Voltou a treinar sozinha, sem dinheiro ou patrocínio, já na casa dos 30 anos. Ironia do destino, tempos depois, seu retorno a consagrou em todo o País e, agora, é uma das esportistas mais aclamadas pela opinião pública – sem contar que não deixa um ourinho para a pernambucana Keila Costa nas disputas nacionais. Depois de todo esse ‘zererê’, tenho que admitir. Pelo menos jornalista esportivo não passa por antidoping e pode tomar comprimidinhos para dor. Não fosse isso, arrisco-me em dizer que não tinha um que sobrasse pra contar história. E Etiene, minha filha, cuidado com as pomadas.