Os Grandes Valentões da Madrugada e O Dia Internacional da Mulher -

Os Grandes Valentões da Madrugada e O Dia Internacional da Mulher

Matéria • 4 de março de 2010 • Jana Lauxen

Hoje, como a tevê já deve ter avisado através de suas inúmeras e, muitas vezes, constrangedoras propagandas, é o dia internacional da mulher.

E você, rapazinho, deve estar em casa neste exato momento, pensando o que vai comprar para dar de presente para sua mãe, irmã, namorada, avó ou professora.

Perfume? Roupas? Jóias? Rosas?

Não, companheiro, aceite meu conselho: não compre nada.

Instauraram o dia internacional da mulher com os mesmos objetivos escusos que instauraram o dia da criança, dos namorados, das avós, dos amigos.

Motivo para vender mais, blablabla e fim.

Acontece que mulher não precisa de perfume, roupas, jóias ou rosas.

Mulheres precisam de respeito.

E, algumas delas, além de respeito, precisam de ajuda.

Sim, ajuda.

Tem marmanjos demais por aí dando uma de valentão para cima de nossas mulheres.

E não faça essa cara de abajur!

Este é  um problema grave e perigoso, apesar de silencioso, e mais cedo ou mais tarde, acredite, vai bater na sua porta.

Acompanhem estes dados aterrorizantes, por favor.

Os negritos são meus.

  • Brasil é o país que mais sofre com violência doméstica, segundo pesquisa da Sociedade Mundial de Vitimologia (www.ipas.org.br);
  • No Brasil, a cada 7 segundos uma mulher é agredida em seu próprio lar (Fundação Perseu Abramo);
  • A violência doméstica é a principal causa de morte e deficiência entre mulheres de 16 a 44 anos e mata mais do que câncer e acidentes de trânsito (www.violenciamulher.org.br)
  • 51% da população brasileira declaram conhecer ao menos uma mulher que é ou foi agredida por seu companheiro (IBOPE 2006);
  • 30% das mulheres brasileiras com mais de 15 anos já sofreram violência extrema (UNIFEM 2007);
  • Entre 25% e 50% das sobreviventes são infectadas por DST (doenças sexualmente transmissíveis);
  • 70% dos incidentes acontecem dentro de casa, sendo que o agressor é o próprio marido ou companheiro;
  • Mais de 40% das violências resultam em lesões corporais graves decorrentes de socos, tapas, chutes, amarramentos, queimaduras, espancamentos e estrangulamentos;
  • Um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que cerca de 70% das vítimas de assassinato do sexo feminino foram mortas por seus maridos;
  • Pelo menos uma em cada três mulheres ao redor do mundo sofre algum tipo de violência durante sua vida, de acordo com estimativa da Anistia Internacional;

Por isso, amigo, flores e perfumes são bobagens quando, a cada sete segundos, uma mulher é vitimada física ou moralmente dentro de sua própria casa. Faça as contas e veja a gravidade da situação: enquanto você lê este texto, cerca de 25 brasileiras irão sofrer algum tipo de agressão.

É claro, não sou ingênua o bastante para acreditar que um sujeito capaz de bater em uma mulher leia um texto como esse e se sensibilize, assim como não creio que vá se sensibilizar com campanhas contra a violência e etc.

Também não boto fé que uma vítima de violência doméstica, depois de ler o que escrevo, seja possuída por uma súbita e arrebatadora bravura e resolva tomar uma atitude drástica – elas estão muito ocupadas morrendo de medo.

Por isto, este texto é para aqueles homens que não batem em mulheres, e acham isso o ó do borogodó, o fim da picada, o cúmulo dos cúmulos.

Vocês, homens de verdade do meu Brasil, podem ajudá-las.

Sim, vocês!

E explicarei aqui como e por que.

Primeiramente, é importante que todos saibam: nenhuma mulher gosta de apanhar.

Nenhuma; nenhumazinha sequer!

Então, paremos com esse discurso lavo-as-minhas-mãos-e-que-se-foda.

Se a mulher apanha, e continua apanhando, e não denuncia o sujeito, é porque tem medo, camarada.

Só isso.

Ela tem medo.

Medo de sofrer represálias, medo de ser assassinada, medo de sofrer mais agressões, medo por elas, pelos filhos, pelos familiares.

Eu sei, agora existe a Lei Maria da Penha, mas, cá entre nós, substancialmente, a dita cuja não serve para nada.

O agressor recebe uma intimação judicial que o proíbe de se aproximar da vítima, talvez pague umas cestas básicas e pinte alguns muros e canteiros, e tudo continua exatamente igual.

A prova do que digo é o número obsceno de mulheres que acabam assassinadas por seus companheiros, mulheres estas que, muitas vezes, fizeram não apenas um, mas dezenas de BO’s que não resultaram em absolutamente nada.

E estes casos de assassinatos, que só aparecem na televisão porque chegaram ao extremo, são apenas a ponta do iceberg.

Porque, além das vítimas fatais, milhares de outras continuam na mira da violência doméstica, caladas, envergonhadas, apavoradas.

Potencialmente condenadas à morte.

Nem critico a lei.

Não se pode prender todos os homens que ameaçam suas mulheres de morte, porque as cadeias mal possuem vagas para aqueles que, de fato, mataram. Também não existem policiais suficientes para que fiquem de prontidão na casa da vítima 24 horas por dia, pois o efetivo policial está em frangalhos, mal consegue cumprir com suas funções mais básicas.

Logo, a Lei Maria da Penha serve mais para um descarrego de consciência do que, de fato, para proteger a mulher de seu agressor.

Enquanto o homem que bate não tiver medo da punição, continuará batendo.

E acredite: para a maioria deles, meia dúzia de cestas básicas e algumas pinceladas de pincel na parede da delegacia valem à pena, desde que possam continuar aterrorizando sua mulher – esta, aliás, sua maior diversão.

Mas então o que fazer?

Eu respondo: essas mulheres agredidas devem ter um pai, um irmão, um amigo, um vizinho.

Não é  possível que não!

Não acredito que estejam sozinhas no mundo, a mercê.

E são esses homens que possuem a obrigação moral e cívica de defendê-las.

Sim porque, todos sabem: homens que batem em mulheres não passam de grandes covardes bundas moles.

Gostam bater nos mais fracos, porque, de igual para igual, parecem hamsters assustados.

É fato.

E sabem por que afirmo isso com toda a convicção do mundo?

Porque já  sofri violência doméstica também.

Sim, já.

E não tenho vergonha nenhuma de assumir isso publicamente – até porque, sob o meu ponto de vista, quem deve ter vergonha disso é ele, e não eu.

Faz tempo, eu era uma adolescente idiota e abobalhada, e o traste seguiu à risca a cartilha dos valentões: ameaçou, fez chantagem, descontrolou-se, fez e aconteceu.

E só  parou quando tomou meia dúzia de tabefes muito bem dados na orelha.

Exatamente.

O grande e perigosíssimo valentão da madrugada parou de latir assim que tomou o primeiro sopapo.

Cessou com as ameaças, parou de encher o saco, sumiu do mapa.

Sossegou.

E eu, mais ainda.

E foi só aí que entendi: os valentões da madrugada, que gostam de bater em mulheres, só são valentões da madrugada até encontrarem alguém mais valentão da madrugada do que eles – e vamos combinar: de valentões esses ditos cujos só tem a pose.

Ou seja: quem pode, de verdade, ajudar estas mulheres a se defender desses companheiros (?) violentos são os homens que estão à volta dela.

Seus amigos, seu pai, seu novo namorado, seu irmão, seu vizinho, seu colega de trabalho.

Boletins de ocorrência até são válidos, mas, no frigir dos ovos, acabam não servindo para nada.

As mulheres agredidas continuam em risco, continuam amedrontadas, aprisionadas ao seu próprio terror.

Sou daquele tipo de pessoa que acredita que alguns problemas a gente resolve no olho por olho, dente por dente e que se dane.

Homem que bate em mulher é covarde e só por isso bate em mulher.

Porque sabem que, em relação a elas, são mais fortes.

Mas na hora de encarar um homem ‘do seu tamanho’, se mijam nas calças pateticamente e fim.

Garanto.

Eu sei, este é um texto politicamente incorreto.

Afinal, estou sugerindo que resolvamos a violência com mais violência.

Mas, infelizmente, não consigo enxergar outra saída para este mal que atormenta uma mulher a cada 7 segundos, só aqui no Brasil.

E se você  acha que estou errada, e que violência se responde com amor e ternura, e que estes homens precisam de ajuda ao invés de punição, é porque nunca foi agredida, ou porque nunca viu sua amiga, sua mãe ou sua filha sofrer qualquer tipo de violência, qualquer tipo de covardia.

Eu já  fui vítima de violência doméstica, e faço parte destas estatísticas que você acabou de ler ali em cima.

Eu sei exatamente a dimensão do terror sob o qual vivem estas mulheres, sei exatamente qual a grandeza e a gravidade deste problema – e também sei o quanto são acovardados esses grandes valentões, que enquanto latem parecem cachorros grandes, mas é só você sapatear na sala e descobre que não passam de poodles cor de rosa amedrontados e comedores de ração.

Se não podemos prendê-los, então precisamos pará-los.

Temos a obrigação de impedir que suas ameaças se tornem reais.

Precisamos apresentar para estes homenzinhos meia boca homens de verdade, homens que os façam sentir exatamente o mesmo medo e o mesmo terror que incutem em suas parcerias, covardemente, estupidamente, grosseiramente, para que provem o gosto do próprio veneno.

Não dá  para esperar que mais mulheres morram para, só então, puni-los.

Homem que bate em mulher merece apanhar.

Precisa apanhar.

Tem o direito e o dever de apanhar.

É a única maneira de fazer com que estes grandes valentões da madrugada coloquem seu pequenino rabo entre as pernas e deixem suas ex-companheiras viverem em paz.

Ademais, que tenham todos um feliz dia internacional da mulher.

Sem perfumes e jóias, roupas e rosas, com respeito e proteção, agora e sempre.

Amém.