O amor é a vista de um ponto
Um ponto individual e intransferível, que varia conforme a sentença de cada cabeça.
Não existe quem, neste mundo inteiro, seja capaz de determinar, com exatidão e perícia, o que, de fato, é o amor.
Porque o amor é diferente para cada um.
E cada um, por sua vez, o manifesta e o recebe de um jeito igualmente diferente.
No meu ponto de vista, o amor é calmo.
Profundo tal qual o oceano, sereno como uma pequenina lagoa.
Amores arrebatadores, incendiários, que levam do céu ao inferno em menos de 5 segundos – amor a cento e vinte por hora – para mim, não são amores sérios.
Primeiro porque estão mais para paixão do que, propriamente, para amor – convenhamos.
E paixão, vocês sabem, é cão que late mas não morde.
Embucha, para logo em seguida esvaziar, deixando uma sensação cretina de fome.
A paixão, inclusive, só é boa porque termina.
Atire a primeira pedra quem já não teve um amor que não aconteceu, e por isso cristalizou-se com perfeição em sua fértil imaginação?
O amor perfeito é aquele que não existiu.
Apenas foi idealizado.
E o meu amor, além de sereno, precisa durar.
Durar para sempre.
Sim, acredito em amor eterno.
O desejo pode acabar, as afinidades desaparecerem, mas se houve amor em algum momento, continuará havendo, mesmo que termine.
Amor não existe sem amizade, são co-dependentes.
E um sem o outro é água no chope.
Ciúme?
Para mim uma das maiores máscaras caluniosas disfarçadas de amor.
Egoísmo puro, insegurança mal direcionada.
Crueldade na maioria dos casos.
E não venha me dizer que o amor desconfia.
Senão não é amor, como poderia ser?
Sob o pretexto de ‘cuidar’, estes amores afetados, mascarados, decepam indiscriminadamente a liberdade alheia.
Liberdade esta que mantém as pessoas vivas.
Quem ama quer o outro feliz acima de seus próprios desejos megalomaníacos.
Eu acho.
Amor passa pela tempestade, parcialmente ileso. Amor que vive só na bonança, não; definitivamente não é amor.
O amor morre e renasce também – tem mais vidas que o gato. Num dia você o enterra, jurando que ele se foi para sempre, no outro ele bate na porta, ramalhete de rosas na mão.
Amor é detalhe. Doses diárias e homeopáticas de amor são mais fundamentais que arroubos amorosos dilacerantes – quase sempre muito barulho para pouca sinceridade.
Amor só é amor quando vem da fonte: é preciso ter amor para poder dá-lo, recebê-lo, compartilhá-lo.
Se não tê-lo, como entendê-lo?
Amor é adaptação, sim senhores.
Não castração, muitíssimo menos autoridade.
Apenas adaptação.
Se não existe adaptação, não há troca, é amor egocêntrico, interesseiro, comodista.
Ou seja: não é amor.
Amor é silêncio também.
Não fala o tempo todo sobre o quanto é grande e forte e inabalável.
Amor que diz, na maioria das vezes, não faz.
Este, é claro, é o amor que vejo pelo ponto da minha vista.
É o que procuro dar, é o que busco receber de volta.
Apenas um gosto, uma opção.
Uma mera preferência.
É o que eu acredito que seja, verdadeiramente, o amor.
O resto é fogo que queima palha e não deixa nem brasas, só cinzas, e justifica que analistas e psiquiatras troquem de carro todo ano.
Tudo gente que ainda não descobriu que tipo de amor deseja para si – por isso nunca percebe quando encontra, sequer sabe o que está procurando.
Isso, é claro, na minha humilde opinião.
Na vista que vejo sob meu ponto.
Provavelmente o seu amor seja diferente do meu, mas e daí?
O amor sempre vale, até quando não o é.