Insatisfação absurda - Tirinha de Vitor Batista
Tirinha de Vitor Batista

Insatisfação absurda

Coluna • 13 de abril de 2011 • Isabel Airam

Violento, esfomeado, analfabeto funcional, é o nosso país. O trabalho, importantíssimo para sobrevivência e reconhecimento social do homem, continua faltando para muitos, assim como infraestrutura na saúde pública, etc, etc, etc. Pode ser muito difícil viver bem no terceiro mundo, a soma desses desserviços provoca medo, neurose, infelicidade, desesperança e a falada depressão.

Vivenciamos uma sociedade suicida, que padece cruas ânsias de um porvir feliz, mais humano, igualitário, sem flagelos, sem feridas. O homem se divorcia da natureza e queima os seus cabelos. O homem maltrata o próprio corpo, com o uso desmedido de remédios para dormir, drogas lícitas, ilícitas e a competição desmedida. Nos EUA, tornou-se frequente a invasão de indivíduos disparando tiros certeiros em desconhecidos e depois tirando a própria vida. Há brasileiros seguindo o exemplo, mire o absurdo. Parece moda o “triunfo” do radicalismo religioso dos homens bomba. Então me vem Camus e diz: “O sentimento do absurdo pode esbofetear qualquer homem à esquina de qualquer rua”. Esse divórcio entre o homem e a sua vida, disse Camus, entre o ator e seu cenário, é verdadeiramente o sentimento do absurdo.

No Brasil, cerca de 27 pessoas se matam por dia, segundo a Organização Mundial de Saúde. Ela afirma: “Os principais fatores associados ao suicídio são: tentativas anteriores de suicídio, doenças mentais (principalmente depressão e abuso/dependência de álcool e drogas), ausência de apoio social, histórico de suicídio na família, forte intenção suicida, eventos estressantes e características sociodemográficas, tais como pobreza, desemprego e baixo nível educacional”. Nas últimas décadas, o índice de mulheres e jovens entre 15 e 24 anos de idade cresceu muito. Será que eles leram “Os sofrimentos do jovem Werther”? Provavelmente não, mas devem ter provado desejos impossíveis, avassaladores, doloridos.

Na história da literatura mundial existem inúmeros casos de suicídios, alguns por predisposições hereditárias, como Ernest Hemingway. O pai havia tirado a própria vida, ele também, dois irmãos e mais recentemente a sua neta, a atriz Margaux Hemingway, em 1996. No Brasil, Raul Pompéia e Torquato Neto, que deixou o bilhete: “Tenho saudades, como os cariocas, do dia que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar”. Florbela Espanca e Sylvia Plath, entre tantos outros loucos desesperançados, descrentes em encontrar soluções para os seus problemas, sem plano b, c, d, e, f…

Devemos ser honestos, há sempre o que esperar da vida, realidades existem e podem ser reinventadas. É certo que os dias podem, por um longo período, começar e terminar sem cor. Nada faz sentido, não existe prazer em abrir os olhos, para tudo tanto faz, já perdi o que tinha que perder. Contudo, se uma ideia forte de despedir-se da vida insistir na sua cabeça, procure um especialista, crie uma rede social para interagir com amigos ou desconhecidos, leia artigos e pesquisas sobre o tema. Se teste, não se entregue facilmente, o mundo é uma célula viva pulsante, o amanhã é sempre inusitado, por mais que estejamos aprisionados em nós mesmos. O dia amanhece sombrio, chuvoso, mas o sol pode brilhar a qualquer hora, ele está dentro de nós