Ciúmes -

Ciúmes

Matéria • 3 de novembro de 2009 • Flávio H. Leal Lima

Vocês já ouviram falar da expressão “feedback positivo”, também conhecida como “retroalimentação positiva”? Ela é muito utilizada pela biologia e representa uma resposta fisiológica a um determinado estímulo, no caso, como o efeito é positivo, significa que a própria resposta ao estímulo desemboca no aumento deste, num completo círculo vicioso. É desta maneira que o ciúme age. Quanto mais ciumenta é a mulher, mais motivos para ter ciúmes ela encontra. A criatividade feminina chega a ser esplêndida em alguns casos, criam grandes teorias de conspiração e acabam por esquecer que existem vários motivos para que nós estejamos com vocês, mas, com certeza, o ciúme não é um deles, pelo menos não o despropositado.

Para nós, homens, a insegurança de vocês, na maioria das vezes, é infundada, desproporcional e clichê. Além de sermos constantemente lembrados que somos potencialmente infiéis pelo simples fato de termos nascido homens, nossas parceiras, aquelas que deveriam nos apoiar e conhecer, nos vestem de infidelidade, desvalorizando nossos sentimentos e, principalmente, elas mesmas. Tanto se fala em traição e desconfiança que a coisa vira realidade. Vocês constroem verdadeiras jaulas ao nosso redor. É impressionante.

A fim de não configurar a hipocrisia, é claro que nós não somos angelicais seres alados com auréolas. Temos nossas muitas falhas e a infidelidade faz parte do cotidiano masculino. Entretanto, possuímos algumas exceções, sendo estes exemplares os que mais sofrem pelos ciúmes femininos, fieis e apaixonados, generalizados, carregam a mácula da maioria da classe.

Sabe por qual motivo o Ciúme Patológico é também conhecido como Síndrome de Otelo? Este ilustre senhor, personagem da obra de Shakespeare “Otelo – O Mouro de Veneza”, vive atormentado por um ciúme doentio advindo da relação entre sua amada Desdêmona e seu melhor amigo Cássio. Otelo, perdido em seus devaneios, denotativamente imaginando coisas, fica tão tomado de insegurança e ciúme que acaba por assassinar sua doce e inocente esposa. Eis o porquê. Chega de imaginação fértil quando o assunto for ciúme. Que tal, pra variar, ter a razão como base?

O que esta faltando é analisar os fatos, pensar logicamente e responder: preciso ter ciúmes dessa situação? Se a resposta for positiva, lembre-se que ela tem de estar devidamente alicerçada na razão, dramas chorados não combinam com este tipo de raciocínio. Por favor, dispensem o uso do velho discurso de novela mexicana de “sem ele eu não sei se vou conseguir viver” – após a 5ª série – isto não funciona.

Muitas mulheres sofrem quando traídas, mas não deveria ser desta forma. A matemática é simples: o homem, ao trair, perde uma mulher fiel e apaixonada, enquanto a mulher se livra de um mau caráter infiel que, racionalmente, não é merecedor do seu amor. Vocês ganham! Apesar deste pensamento ser aparentemente fácil e verossímil, sabemos que as cabeças de vocês não funcionam assim, provavelmente, tendem mais para a frase aprendida nas novelas mexicanas. Falta valorização pessoal.

Todos nós cantamos Amélia como mulher de verdade, sem vaidade e companheira nos momentos bons e ruins. Precisamos de um par, não de um carrasco. “Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas”, Chico Buarque canta uma mulher submissa, insegura (deve ser muito ciumenta, inclusive), disposta a todos os sacrifícios pessoais para manter o seu amado, mas não é isto que procuramos. Buscamos sim a mulher que adita, com boa autoconfiança, queremos, assim como vocês, crescer por conta do relacionamento.

Convém deixar claro que o ciúme por si só não é algo nocivo, prejudicial. Inclusive, desde que utilizado em doses moderadas para elevar a moral do parceiro, pode ser um forte afrodisíaco no relacionamento, um casal reciprocamente valorizado traduz sorrisos mais largos e sexo definitivamente prazeroso. A medida de ciúme deve ser, então, na quantia certa. Lembrem-se: tudo de mais é veneno, enquanto o pouco causa letargia.

Portanto, mulheres, saibam bem onde estão pisando ao iniciar mais uma discussão por ciúmes. Sabemos que vocês não fazem por mal, afinal de contas, é a insegurança que fala mais alto e vocês não aguentam. Contudo, também tenham a certeza de que o fim do relacionamento não será por mal, pois a culpada é a nossa jaula que ficou pequena e não suportamos o aperto…

Estou à disposição para comentar sobre o texto e até a próxima!