Quais suas exigências? - Quadro pintado por Tereza Costa Rêgo
Quadro pintado por Tereza Costa Rêgo

Quais suas exigências?

Coluna • 7 de junho de 2010 • Flávio H. Leal Lima

É fato. A maioria dos seres humanos valoriza aquilo que é difícil. Claro que existem exceções, mas nós, homens, não fugimos desta regra, principalmente quando o assunto envolve mulheres. O desafio, neste caso, dita o valor do prêmio. A lógica, então, é simples: a recompensa é diretamente proporcional ao nível de dificuldade do caminho a ser trilhado.

A coisa vai muito além de mero machismo, preconceito ou desvalorização da mulher, o que não importa que essas características, apesar de reprováveis, também existam, engloba sim o mesmo raciocínio de quando não conseguimos dar o valor merecido a um presente recebido, apesar do suor que o presenteador possa ter gasto para a sua aquisição. É uma tendência da humanidade. Easy come, easy go.

Aqui não se está tratando de julgamento, de certo ou errado. Fala-se, pois, de vontade e conduta. Se a mulher é fácil, não há o que se censurar, cada um é dono do seu nariz. Entretanto, o que se vê são mulheres que querem achar seus respectivos príncipes encantados, mas esquecem que estes buscam princesas, assim, percorrem um incongruente paradoxo de serem fáceis e, ao mesmo tempo, valorizadas. É o binômio causa e reação. Ora, a maioria dos homens adora facilidade, somos naturalmente acomodados, ter o que se quer de forma rápida é um bom paliativo, mas não costumamos transformar nossos estalos de dedos luxuriosos em matriarcas de lares, estas, ao contrário, tendem a ser sofregamente conquistadas.

É importante esclarecer que facilidade não é sinônimo de curto espaço de tempo ou de promiscuidade sexual, mas de coisas a oferecer e buscar. Quanto mais se tem a dar, mais se quer em troca. Ser ou não fácil reside no critério de desejo de cada mulher. Se esta busca vários adjetivos em um homem, a escolha pelo parceiro será mais analítica e cuidadosa, sendo, consequentemente, uma vitória daquele que a conquistar. Entretanto, se o espectro de anseios da mulher for amplo e irrestrito, praticamente qualquer um pode ser uma opção, o que acaba por revelar a facilidade da coisa.

A grande questão é que o grosso da temática de ser mulher fácil envolve aquelas que, desprovidas de outros itens que não uma siliconada comissão de frente, não têm substrato intelectual para ansiar no parceiro algo além de um uma boa aparência, gerando uma verdadeira epidemia de Kens para alimentar o crescente mercado deBarbies e vice-versa. A facilidade, logo, anda de mãos dadas com aquelas mulheres de formas físicas mais majestosas e que frequentam ambientes que trazem de nascença um ar de mero abatedouro. Com algumas trocas de palavras e exibições de sensualidade, corpos se enroscam, suam e se contorcem, todavia, após o deleite dionisíaco, os agentes vestem-se na velocidade de um Super-Homem, com receio de que seja iniciada uma conversa que revelará para ambos que suas mentes geralmente beiram o vácuo diante do pouco que têm a oferecer.

Beleza não põe mesa. Para uma noite, como dito, pode até ser uma ótima e orgástica ceia, entretanto, para uma vida, principalmente após o efeito da gravidade e das rugas, a coisa se torna bem mais complexa. O eterno poeta Vinícius de Morais recitava que a mulher tem de ter algo além de beleza…

Trecho da letra da música Samba da Benção – Vinícius de Morais e Baden Powell

Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher

Quais suas exigências?