Poesias de Nando Pessoa
Meu reinado
Porco incomunicável
Vida miserável
Ideia insuportável
Como eu sou intragável
Insuperável viver na cama
Inseparável minha paixão por lama
Pois vivo como um rei dançando
De outro jeito nem sonhando
Alimento-me de sorte
Não sei como é a morte
Minha cabeça dormente
Anda viva livremente
Gosto de movimento
Apesar de ser lento
Quando canso me sento
Viver bem, eu tento.
Sofreguidão
Minha alma não dói
Minha calma corrói
dentro a sufocante epidemia
E o mal estar contínuo solidão e mania
Matando em agonia
Estar sempre breve
Leve na água fria
Torta melancolia de neve
Deve
Mas deve de fato…
Mesmo chovendo e clareando no mesmo ato
Nostalgia se repete
Sujeita sujeira da imaginação
Perigo iminente e competição
Fantasia evidente e satisfação
Desfeita para mim o acaso em vão.
Meio sem fim
Meu coração batendo porque não me entendo
No meio sem fim eu procuro por mim
O tempo está se estendendo
E o sim é não e o não é sim
A finalidade não existe onde tudo é tão claro
Mas insiste em deixar sempre o vago
Eu me vendo me deparo
Mas termino no espelho e paro
Tudo está ao contrário e me contrario
Sem poder me proteger, me contagio
A impureza do ar que respiro
Não tenho onde guardar o que aspiro.
Belisa
Eu não vejo bem
Nem sei bem de você
Parece tudo tão obscuro
Apesar do abstrato
Meu trato
Sinto
Me atrai cheiro
Cor, textura
És linda
Me atrai por seu enigma
Seu mistério
Parece que o meu olho viu
O que não se vê a olho nu
Meu pensamento já não era tormento
Que despida da despedida
Da minha partida
Eu era mais eu.
Relevando
Relevando
Temendo o medo
Imaginando
Cedendo enquanto é cedo
Revelando
Qualquer que seja o fim
Inadequando
A fé se instala em mim.
Fernando Pessoa é recifense e começou a escrever por necessidade de expor as suas angustias, o que lhe incomodava, inquietava. É músico, violonista. Estudou no Centro Educacional de Música de Olinda e no Conservatório Pernambucano de Música. E compõe músicas instrumentais.