Coração sem fio -

Coração sem fio

Coluna • 26 de agosto de 2012 • Dani Leão

Em meio ao comodismo de uma conjuntura tecnológica portátil, a invasão de privacidade deixou de ser mera coadjuvante das calçadas para as chamadas janelas contemporâneas. Os pontos da conexão, que parecem batimentos cardíacos, são viscerais para a relação emotiva entre máquina e ser-humano. Uma espécie de back up social à distância. Um enorme banco de dados interligados por um só espaço cibernético.

O olhar habituado ao quadrado mágico da globalização é o espelho da realidade. As salas de reuniões foram substituídas por salas de bate-papo. Os telefones, televisões, jornais e rádios estão linkados na versatilidade democrática de informações. Essa interligação faz jus à frase de Sherlock Homes: “Você vê, mas não observa.” As pontes que ligam o virtual e o real andam desligadas do insubstituível contato corporal.

As imagens e as palavras não fazem parte de cartas ou cartões postais. Nesse mundo o correio eletrônico é bem pessoal, não é endereçado nem no google maps, mas disponibiliza de fotografias e textos assinados por muitos artistas até então codificados em sites e em@ails. A abreviatura e os símbolos da linguagem internetês são responsáveis por sensações. Inclusive a de ameaça à língua culta =P.

O ideário da contracultura dos anos 60 voltado à liberdade e integração universal é um quadro perfeito da realidade. Os aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos de intervenção contestatória da sociedade estão alçados a intercomunicação sem fio. O sistema ancorado no mar de softwares desempenha seu papel em tempo real, não funciona emstand by. Cada indivíduo é responsável por seu repertório, pela sua pesca. Há favoritos e deletados como lixo visual e sonoro.

Essa relação informal e ausente mexe com o íntimo das escolhas e desperta a sedução. A vida pede o F5 nas realizações. A convenção do plano físico chamado “mundo real” está inserida na plataforma geográfica inter(multi)cultural da virtualidade. Embora a internet seja algumas vezes verdadeira, o perfil on line interliga e se difunde do off line, num tempo intermitente. O quadrado das telas toma a forma de um gelo que aparenta ter esfriado a naturalidade. Como por exemplo: as flores sem aroma, as gargalhadas silenciosas =), as doações de órgãos. Um tipo de prisão da essência, do necessário, do vital.

Não aceite um coração desenhado , abra as portas do mundo real e veja o sol brilhar na pele, abrace outro coração sorrindo para o movimento da existência. À noite a lua te convida para dançar e você escolhe a trilha. (Des)conecte os laços. Viva!