Odin: Um deus no caminho da vida e além desta - Odin (Ilustracao de Ludwig Pietsch, 1865)
Odin (Ilustracao de Ludwig Pietsch, 1865)

Odin: Um deus no caminho da vida e além desta

Matéria • 23 de junho de 2009 • Carlos Costa

Considerado o pai supremo do panteão nórdico, a mitologia de Odin é muito rica, fascinante e, por vezes, paradoxal, apontando para aspectos emocionais, psicológicos e espirituais da jornada humana, já que miticamente, entre os homens e os deuses há sempre uma relação de espelho, de reflexo e do caminho a ser percorrido na vida.

Como arquétipo de um deus masculino e criador, teve várias amantes e uma numerosa prole. Também possuía inúmeros atributos que lhe conferia uma estatura de pai de todos e o mais poderoso dos deuses. Fruto de uma cultura bélica, por excelência, era um deus guerreiro que ajudava os combatentes nas guerras, e escolhia os mais nobres e corajosos, mortos nos campos de batalha, para partilharem sua companhia no Valhalla, espécie de paraíso.

Odin era filho de um povo gigante ancestral e marido de Frigga, a deusa rainha, com a qual iniciou um clã de deuses através de um hierogamos (casamento sagrado) e passou a governar os mundos, que eram sustentados pela árvore de Yggdrasil, a Árvore do Mundo. Contudo, ele não nasceu deus onisciente e poderoso na hierarquia divina, foi progredindo numa jornada entremeada de provas e sacrifícios. De fato, não era uma divindade propensa aos confortos existenciais da vida imortal, almejava e buscava uma realização mais profunda enquanto ser. E para isso, foi ao extremo, auto-imolou-se na Árvore do Mundo, atravessado por uma lança e dependurado como um enforcado durante nove noites e nove dias. Além disso, sacrificou um olho na fonte de Mimir (fonte da memória ancestral, intuição e visão interior).

Os mitos se parecem, os mitos se relacionam, os mitos deitam no mesmo leito da existência onde nasceram as almas de toda a humanidade. Eles indicam o caminho a seguir quando nos encontramos confusos e perdidos. Mas os mitos nascem crus, portanto, é preciso cozinhá-los no caldeirão alquímico com os melhores temperos que a interpretação pode nos proporcionar.

Assim, não tardemos mais em cozinhar este mito de Odin, embora é preciso esclarecer que outras leituras interpretativas são possíveis e, mesmo, desejáveis.

  • A vida é uma luta até o último suspiro, levando-se em conta que a coragem é uma exigência e a nobreza um valor. A modernidade não nos separou dos campos de batalhas, apenas as tornou mais diversificadas e mais requintadas.
  • O paraíso é muito mais uma partilha com os semelhantes em valor e afetividade, um estado de ser, do que um lugar específico.
  • A jornada de cada um se dar com a busca em sua totalidade: contemplando o físico, o emocional, o mental e o espiritual.
  • É preciso casar os aspectos masculinos e femininos dentro de cada um para que isso possa gerar os melhores frutos e resultados em nossa incrível jornada pela vida.
  • O sacrifício faz parte do processo de conquista em qualquer esfera, seja esta material ou espiritual.
  • É necessário elevar as energias do plano mais inferior, instintual e animal, passando pelo emocional e mental, para o plano superior, espiritual. A lança que atravessa o corpo do deus Odin, no processo de empalamento, sugere simbolicamente essa subida da energia.
  • O enforcar-se na Árvore do Mundo. O pescoço é a ligação entre os aspectos inferiores e superiores, entre a mente e o corpo ou entre a razão e as emoções, mais precisamente. E é nesse ponto justamente que o deus está estrangulado, o que significa que é preciso ir além dos aspectos emocionais e mentais humanos para estar ligado à árvore da vida e da existência, penetrando assim o conhecimento, o sentimento e o entendimento superiores.
  • Sacrificar um olho para que parte da visão se volte para o interior. Ou seja, para que se possa conquistar a intuição, e, principalmente, o entendimento de si próprio. Pois sem isso, nada poderá ser feito.
  • O processo se dá no tempo, em ciclos que se repetem e que um dia se finalizarão, embora não se possa conhecer previamente esse dia. Nove é um número final, mas ao mesmo tempo aponta para o que é cíclico, pois é o três repetido três vezes, dando-nos a idéia infinitude. Assim, nos indica um tempo que não pode ser medido, mas que produzirá uma conclusão.