Notícias que reverberam no estômago: os homens-bichos
Durante toda a semana acompanhei as notícias sobre o caso Maristela Just. Tenho a idade da filha dela, não os conheço e muito menos acompanhei o que poderia ser chamado de processo judicial. Assinalo, ainda, esse processo como lento e penoso para mim também, como espectadora. Me abalo com cada linha das reportagens que leio.
Quando se fala em casos como o de Maristela, uma comoção e profunda tristeza me abatem. Quando alguém com a alcunha de “ser humano” pode atentar contra uma família inteira – a sua própria família – em defesa do que ele chama de honra? Caro senhor Gil Teolbaldo, honra, dadas as circunstâncias, seria o senhor ter a dignidade de não passar a mão na cabeça do seu filho, um assassino confesso. Honra, seria criá-lo sob o prisma da ética e do respeito, ao contrário do que o senhor faz quando chama “lésbica e viado de um lote de cabra-safado”. Honra, seria apoiar seus netos, VÍTIMAS de seu filho, que, tomado pela raiva e intolerância, matou a sua nora como se mata um bicho, quando, na verdade, não deveríamos matar nem uma mosca. Honra, ainda mais, é ser um advogado e cidadão que labuta pela coerência e pela JUSTIÇA, se é que o senhor tem senso para entendê-la de forma íntegra.
Apesar da distância e do profundo desconhecimento das personalidades envolvidas, é isso, tenho certeza. São bichos, bichos irracionais e intolerantes. Ignorantes, no final das contas, que merecem, sim, a justiça divina. Mas aqui na terra há leis, uma Constituição, uma justiça a qual todos nós devemos obedecer e prezar. E vocês dois, pai e filho, merecem sofrer as consequências das duas, se é que eu posso julgá-los enquanto observadora indireta.
Não é um caso único. Posso contar, e você também, quantas mil vezes li nos jornais e assisti homens-bichos atentando contra a vida dos seus filhos porque as mulheres não o queriam mais. Homens-bichos que não sabem lidar com a perda, com o sofrimento. São incapazes de entender que as mulheres não têm donos. Estão simplesmente ao lado, quando querem. Vocês precisam se “vingar” para recomeçar? E o preço é apagar a história que tiveram em nome da “tal honra”? Matar um filho para tentar livrar o sofrimento de não ter a mulher ao lado? E veja você, eles ainda acham que estão certos. Digo isso porque, uma mulher, nessa situação, com filhos, família, na maioria dos casos, só sai de casa ou pede para ele sair porque não aguenta mais viver com alguém que não a respeita. Isso é muito sério.
Dia desses uma vizinha se trancou no quarto com os filhos e sobrinhos porque o marido chegou bêbado. Querendo bater nela. Quebrou a casa, jogou tudo pela janela. Outro caso de marido com o ego ferido, no Sul: ele levou as crianças para uma ponte com o intuito de jogá-las na água, como quem joga objetos inúteis na lixeira. Só foram salvas porque uma senhora o flagrou. O próprio caso da menina Aricela, o qual não consigo terminar de ler ou pensar sobre, me deixa tonta, tonta, de tanta dor que me dá. Eles são impiedosos, são ruins. Quase de outro mundo. E nos tratam como objetos.
O que é isso? O que leva um homem a maltratar uma criança em defesa da honra? Que espécie de ser humano é esse? Onde nós estamos? Ah! Se eles soubessem o que realmente pensamos, o quão simples que é nossa querência…
São muitas as perguntas, muitos os casos, muitas as tristezas e lamentações que sempre chegam ao nosso conhecimento. Quando eu era mocinha, logo depois que perdi minha tia recém-separada “misteriosamente”, fiquei com medo, muito medo de casamento. E acho que todo mundo deveria ter um pouco. Por que somos tão bobas e ingênuas? Por que nos deixamos levar por um sentimento que só dá corda para nosso pescoço? E o pior, já tínhamos alguma noção de onde isso iria dar. Mas insistimos em acreditar que eles vão mudar. É o que eles dizem afinal, e acreditamos, por puro amor. Ou por ele ou pelos filhos.
Amamos, sim. Mas chega a hora de termos força. Força para lutar. Força para não nos deixar abater. Força para mostrar aos homens-bichos que há uma lei, há uma fiscalização que pune. E uma mulher corajosa à frente de um monte de sentimentos.
No dia do caso da minha vizinha, ela própria chamou a polícia. Mas quando a polícia chegou, ela não desceu do prédio e deixou para lá.
Não deixe isso acontecer com ninguém. ESQUEÇA que “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. Mete, sim, principalmente quando há violência em jogo. Se não há respeito, se não há paz, não há relacionamento que preste. Muitas vezes, essas mulheres só precisam se encorajar. E isso pode partir de você.
Eu garanto que não é nada legal ter um caso desses na sua família. Garanto.
Em Pernambuco, ligue para 81 3424.9595 e denuncie. É anônimo.