VI Festa Literária Internacional de Pernambuco - Clarice Lispector (Foto: Divulgação)
Clarice Lispector (Foto: Divulgação)

VI Festa Literária Internacional de Pernambuco

Matéria • 4 de abril de 2010 • Belisa Parente

A principal festa literária do Estado de Pernambuco, Fliporto, agora intitulada Festa Literária Internacional de Pernambuco, homenageará uma dona de casa que escrevia romances, crônicas e contos, aliás, “A dona de casa que escrevia”: Clarice Lispector. A 6ª edição da festa, que acontecerá de 12 a 15 de novembro, no Pátio da Igreja do Carmo, em Olinda, versará sobre a literatura judaica e englobará cinema e gastronomia.

Mas o que a literatura judaica tem em comum com nós, pernambucanos? Talvez as fortes raízes da convivência social. A resistência, a força e a determinação de quem já foi massacrado. Segundo os organizadores, existe a intenção de dialogar com a ideologia judaica e com suas novas configurações identitárias, fazendo um paralelo com a nossa cultura.

Entre os autores convidados, é presença confirmada o canadense Alberto Manguel, que passou boa parte da infância em Israel e tem publicado no Brasil, entre tantos: À Mesa com o Chapeleiro Maluco (2009), O amante detalhista (2005) e Dicionário de lugares imaginários (2003). Ricardo Piglia, escritor argentino, autor de Respiração artificial (2010), O último leitor (2006) e Formas breves (2004). E os brasileiros Moacyr Sciliar e Arnaldo Niskier, ambos membros da Academia Brasileira de Letras com livros publicados sobre o judaísmo: ABC do mundo judaico (2007) e A sabedoria judaica de A a Z (2009), respectivamente. Entre os especialistas de Clarice Lispector, os biógrafos Nádia Gotlib e o americano Benjamin Moser, que encantou o mundo com a história da nossa ‘Clarice’. Segundo Eduardo Porto, responsável pela seleção dos escritores, a escolha é feita pela importância da obra.

No projeto 2010, consta a inclusão social de alunos das escolas municipais de Olinda, um circuito pelas bibliotecas da cidade, entre elas a do Mosteiro de São Bento. Além de articulações com a rede hoteleira, artistas e a Sociedade dos Poetas Vivos. De acordo com o Prefeito de Olinda, Renildo Calheiros, os trenzinhos ainda existentes na cidade alta irão funcionar durante a festa.

A mudança de local – até o ano passado era em Porto de Galinhas -, segundo o curador do evento, Antônio Campos, é uma estratégia para aproximar a população. O Nordeste possui o maior índice de analfabetismo do País, 24,2% segundo o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), realizado em 2000. O combate ao analfabetismo precisa ganhar força dentro das políticas publicas para acabarmos com o raquitismo intelectual e cultural.

Com apoio da Prefeitura de Olinda, Governo do Estado de Pernambuco e Governo Federal, União Brasileira de Escritores, Rede Globo e Embaixada de Israel, estima-se que 50 mil pessoas participem do evento – que oferece oficinas e palestras (30 escritores foram convidados). Serão lançados, também, livros de 30 autores pernambucanos durante o evento. A Fliportinho, para as crianças, e a Fliporto Digital permanecem na programação, assim como as mesas de debates entre os escritores e o público.

Ninguém escreveu como mulher como Clarice. Não só porque [na sua obra] os personagens na maioria são mulheres, mas porque o modo de ver tem um olhar feminino que um dia a teoria da literatura vai tentar definir, talvez consigam. — Nádia Batella Gotlib

Tinha cinco anos de idade quando se mudaram para o Recife, no qual ela sempre pensaria como sua cidade. Pernambuco marca tanto a gente que basta dizer que nada, mas nada mesmo nas viagens que fiz por este mundo contribuiu para o que escrevo. Mas Recife continua firme. — Trecho de ‘Clarice’(2009), biografia do americano Benjamin Moser, convidado da Fliporto 2010.

Em Clarice, o íntimo parece cósmico, o silêncio, o mais agudo dos gritos. Não consagração do instante, a definitiva epifania: “Eu acho que quando escrevo estou morta”. — Antônio Campos