Salvador Dalí e a presença imperiosa de Gala
Salvador Felipe Jacinto Dalí nasceu no dia 11 de maio de 1904, em uma cidade do interior da Espanha chamada Figueras. Desde moço flertou com as artes plásticas, com a física, a matemática e a psicanálise. Apesar de ser considerado um gênio desde a infância nunca foi um bom aluno na escola, mas já desenvolvia sua genialidade nas telas. O artista começou a pintar aos 10 anos de idade, e aos 13 entrou para na Escola Municipal de Desenho, onde aprendeu técnicas de pinturas e esculturas. Posteriormente, estudou na Escola de Belas-Artes de San Fernando, em Madri – onde conviveu com intelectuais, poetas e cineastas. Mas foi em 1928 que ele aderiu ao movimento que caracterizaria permanentemente sua obra, o surrealismo. No ano seguinte, conheceu sua primeira e única mulher, a russa Elena Dimitrievna Diakonova (que se autoapelidou Gala), vivendo com ela um romance de 53 anos.
Nos anos 40, Dalí rompe com o movimento surrealista por motivos políticos e vai para Nova York, onde, instigado pelos avanços nucleares, deixa seus conhecimentos científicos se fazerem visíveis na arte. Tornam-se recorrentes em sua obra objetos suspensos ou que se decompõem em partículas que flutuam no espaço, como na tela Cabeça Rafaelesca Estalando, 1951. Nela, ele reproduz o retrato de sua esposa e musa Gala.
“Todo pintor pinta a cosmogonia de si mesmo; Rafael pinta a cosmogonia do Renascimento e Dalí pinta a era atômica e a era freudiana”, afirmou Dalí nos anos 50. Além disso, percebemos que Gala foi uma musa insubstituível. Dez anos mais velha que Dalí, Gala o introduziu no meio artístico parisiense. Nos anos 30 e 40, a musa foi vista como uma mulher fria e autoritária, determinada, que sabia muito bem manter um relacionamento duradouro com um homem genial valendo-se de esperteza, sensualidade, e inteligência.
Em Leda Atômica, 1949, Dalí explicita seu interesse pela aplicação da matemática na arte, inspirado pelo livro A Geometria da Arte e da Vida, de Matila Ghyka. Assim como passa a envolver mística religiosa com matemática, influenciado pelas pesquisas do amigo matemático Ramon Llull, que tentava demonstrar a existência de Deus a partir da percepção matemática das figuras geométricas. Leda Atômica abre o período dos quadros religiosos de Dalí, outro deles, seguindo o estilo, é Crucifixion or Corpus Hypercubicus, 1954.
O mito de Leda foi retratado por inúmeros artistas, entre eles Timóteo e Leonardo Da Vinci, mas a imagem marcante da Leda de Dalí, suspensa, apoiada em si mesma, se sobressai um pouco da tradição na arte clássica – ultrapassando o mito que Zeus teria se transformado em cisne para seduzir a esposa de Tíndaro. Dalí o transforma, pois o estado de levitação em que se encontra a mulher e o cisne no quadro, expressa força e sublimação.
A presença de Gala foi fundamental na sua vida e na sua obra. O amor, dependência, admiração, era tanto que ele passou a assinar seus quadros como Gala – Dalí. “Gala me deu, na verdadeira acepção da palavra, a estrutura que faltava na minha vida. Eu não era mais do que um saco cheio de buracos, mole e nebuloso, sempre em busca de uma muleta. Encontrei em Gala uma espinha dorsal, e fazer amor com ela, preencheu minha pele. Primeiro eu pensei que ela iria me devorar, mas, pelo contrário, tem me ensinado a conhecer o real.
Assinando meus quadros como Gala – Dali, eu não faço mais do que nomear uma verdade existencial, porque eu não existiria sem minha alma gêmea Gala”, afirmou Dalí.
Salvador Dalí levou ao mundo das artes sua personalidade excêntrica, apaixonado pela psicanálise freudiana, mitologia, física quântica e matemática, tornou-se um grande artista e também um grande promotor de si mesmo. Muitos o criticam, o chamam de narcisista. George Orwell, por exemplo, afirmou que Dalí foi um bom desenhista e um ser humano repulsivo, já Robert Descharnes, disse que depois de Gala, Dalí ficou mais observador que consumidor sexual. A verdade é que acima de tudo Dalí foi um onírico que amava as artes.
Confira alguns trabalhos de Salvador Dalí