O mundo é uma célula viva pulsante -

O mundo é uma célula viva pulsante

Matéria • 7 de novembro de 2011 • Belisa Parente

Desenho situações no papel para compreender o sentido das coisas, para ritualizar conflitos sociais. Governo, empresários, natureza, pessoas, bobos da corte, deuses… Sistemas. Ao compreender, geralmente, desejamos parar e sair pela tangente ou entrar no ritmo e ser fera na civilização.

Alberto Dines disse: “Coleguinhas, não tenham medo dos indignados”. Estes seres inquietos percebem sutilezas, transformam raiva em indignação, movimentam-se nesse mundo liberapático. É preciso ler as entrelinhas, lá vai um peixe saindo do globo quebrado. Observem os rios e os mares, as chuvas e os períodos de estiagem, eles são termômetros naturais.

O lobo velho conta causos extraordinários para te fazer querer caçar, a televisão reproduz com linguagem subliminar e inicia-se a lavagem cerebral. Menino bom busca caminho fora do eixo, contornos para o futuro da humanidade. Você foi criado para ir para o lixo? Os recursos naturais, ah, os recursos naturais! Neste mundo descartável. Somos todos descartáveis? Quantos planetas – Terra, alô, Terra! serão necessários para aguentar o cof-cof dos empresários? Anjinhos, seres da música da palavra, toquem os humanos das sociedades alopradas, do pensamento individualista, consumista, imediatista.

Vou escrever uma tragicomédia: O primeiro protesto de Marília. Refiro-me ao ato, no Recife, contra a construção da Usina de Belo Monte e o Novo Código Florestal. Eu disse, mexeu com os meus primos, mexeu comigo, mas foi frustrante. Esses assuntos precisam ser discutidos em todas as esferas da sociedade, um protesto é um bom momento para o diálogo. Comente com a diarista, o porteiro, colega de trabalho – os meios de comunicação de massa, muitas vezes, deixam de cumprir o papel social. Um amigo de Manaus disse: “Protestos acontecem no litoral, por aqui tá tudo parado”.

A “Marcha das Vadias”, em Itabuna, interior da Bahia, com a bandeira: “Não sou puta, não sou santa, sou livre”, chamou a minha atenção. Inteligente, sagaz, independente, bonita e divertida. “Nos vinculamos a um movimento internacional denominado Slut Walk, iniciado no Canadá, neste ano, em protesto à atitude de um policial que, em uma palestra, advertiu estudantes da possibilidade de estupro, por estas usarem roupas de “vagabundas” (slut, em inglês)”, explica Daniela Galdino, uma das organizadoras da marcha. Mire o absurdo! Não é em vão que manifestantes nos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Holanda, Nova Zelândia e França aderiram à causa.

Arquiromântica, digo: É lindo ver os americanos dos EUA irem às ruas protestar contra o todo perfeito “American way of life”. Morro de rir, uma gargalhada boa quebra-se no olhar de um europeu preocupado. Depois dobra como sinos. Vamos pros Andes ou Martinique?! É necessário romper a teia que nos impede de enxergar o valor das coisas palpáveis e imateriais, da economia, da publicidade, da política para o bem do povo, da maneira adequada de se viver na Terra. Espero protestos por uma vida sustentável, pela diminuição de gases tóxicos no nosso céu, por tempo para desenvolver a sensibilidade, pela vida dos peixes do rio Capibaribe, Tietê, Ganges…

A Revista Vogue participa de campanha para estimular o consumo no Japão, com a boa vontade, leia a ironia, de ajudar o País a sanar as perdas ocasionadas no terremoto e tsunami ocorridos neste ano. A radialista Lisa Simeone foi demitida da rádio pública americana por participar do movimento “Ocupem Wall Street” – desde 17 de setembro estadunidenses acampam no entorno do centro financeiro de Nova York em protesto contra o sistema governamental e bancário. No Chile, mais de 100 mil estudantes e professores tomaram as ruas de Santiago para pressionar o governo e reafirmar o desejo de uma educação pública gratuita para todos os chilenos. A “Primavera Árabe” matou o ditador Muammar Kadhafi; no Brasil, indignados se organizam para protestar contra o crime do colarinho branco. No Recife, a concentração será na Pracinha Boa Viagem, às 14h, no próximo dia 15 de novembro.

Aos poucos, grupos unem-se para cobrar o que lhes diz respeito, para reexaminar valores da sociedade mundial e tentar minimizar catástrofes. Dizer que é modismo, não sei, pois, que seja, faz bem quando há necessidade. É digno sair de casa para gritar pelo próprio bem e o da comunidade. Escolho pelo menos duas marchas por ano e vou para a rua mostrar a minha indignação. Acredito que ao dizermos: – Não aceitamos isso!, delimitamos limites necessários para a vida saudável da nossa espécie no mundo.