Entrevista Daniel Peixoto
Daniel Peixoto pode ser uma mistura da piração de New York Dolls com Massive Attack. Pode ser uma célula viva que só deseja pulsar, um anjinho bissexual, caboclo andrógino. O hit ”Ginastas Cariocas” conquistou o público electrodançante do eixo Rio-SP e aos poucos correu o Brasil. Com Patrick Bacchi e sua guitarra furiosinha, Leco Jucá no groovebox e Daniel liderando com vocal agressivo, era a Montage. Daniel seguiu sozinho comandando um som ora visceral ora tecnobrega, mas sempre partindo da música eletrônica. Ele tem blog na MTV, programa de rádio na UOL, o DJ Mix Jovem, fez turnês fora do Brasil. Lançou recentemente o single “Come to Me”, do cd “Mastigando Humanos”, e conversou com a Zena sobre o passado, o presente e o futuro.
Daniel, você nasceu e viveu até a adolescência em uma cidade do interior do Ceará, e criou algo, musicalmente e esteticamente, total adverso. O que você ouvia nessa época?
Cresci ouvindo mpb e metal, que são os sons que meus pais ouvem. Na adolescência passei a ouvir música eletrônica e punk rock. Esse sou eu.
Ter raízes no Cariri contribuiu com a formação da sua personalidade em que aspectos? Pergunto isso porque me surpreendi com alguns comentários seus nos “Histórias da Carochinha”.
Eu sou um filho do Cariri, me sinto muito completo em ter vivido as coisas que vivi por lá, fico de cara, imaginando como foi a infância dos meus amigos daqui de SP, por exemplo. Sem correr na rua, sem tirar fruta das árvores, essas coisas. Eu saí de lá porque precisava mais do que isso. Por isso me voltei pra outras vertentes e vivências. Cresci também no Rio de Janeiro, onde mora minha família paterna. Sou fruto das duas referências.
Você já fez electro-punk, gótico, funk, pop, brega. Nunca pensou em misturar Os Irmãos Aniceto com música eletrônica?
Penso isso muito, sério mesmo. Minha música “Olhos Castanhos” tem uma referência nítida deles. Mas pretendo usar isso mais. Quando tiver tempo pra me aprofundar na pesquisa e estar ao lado deles, só samples não valem pra mim.
Como foi ser super moderno, diferente, em uma cidade como o Crato?
Eu paguei e pago o preço por essa diferença, nunca fugi ao preço das minhas atitudes. Sai de lá por que queria mundo, e lá eu não conseguiria. Mas esse fator fuga ainda é uma realidade pra pessoas que querem trabalhar com arte por lá. Infelizmente, acho que nunca vai mudar.
Aos 16 anos você já sonhava em fazer sucesso, fazer música, escrever seu nome no Google?
Aos 16, aos 6, aos 3…
Vi apenas três shows seu; no Crato, com Patrick e Leco, em Fortaleza só com Leco e no Recbeat. O saudosismo típico recifense me fez lembrar a Textículos de Mary, eles foram referência para você?
Não. Adoro e respeito o som dos caras, mas acho que nossas referências são as mesmas, por isso a semelhança.
Em certos momentos dos shows, pela sua performance super instigada, eu pensava: – Daniel vai se machucar. Você é sempre assim, um vulcão?
Sempre, e me machuco muitas vezes. Sexta passada toquei e saí com sangue na boca, nos pés. Eu só sinto depois, não sou masoquista, mas me divirto divertindo as pessoas dessa forma.
Você lançou há pouco o single “Come to me”. Muitos shows, tocadas, loucuras, sonhos ainda nessa cabeça?
Simm, tenho trabalhado muito por conta de Come to Me. E os meus sonhos eu não realizei nem a metade deles. Trabalho duro, dia após dia em nome deles.
O que devemos esperar, de inusitado, do seu primeiro álbum solo ”Mastigando Humanos”?
Excelentes músicas pop, uma passagem por um mundo tropical que eu ainda não tinha explorado e letras mais sólidas e autobiográficas. O oposto da Montage.
Daniel agora é pai, o que mudou?
Tudo. Penso que minha música mudou por causa disso. Minha música, meus hábitos, minha visão do futuro. Tudo mudou pra melhor com a chegada dele na minha vida. Quero ter outros, certeza!