Abra a Janela e dê uma volta no centro
O olhar atento, aguçado e focado da moça no volante, desenho de Clara Moreira, reflete a proposta da quarta edição do Janela Internacional de Cinema do Recife. O festival levanta a discussão, registrada por cineastas pernambucanos nos filmes, sobre alguns problemas sociais e a nossa relação com a urbe.
Lembro de Chapin e a sua genialidade simples e humana: “Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror. Os bons filmes constituem uma linguagem internacional, respondem à necessidade que os homens têm de alegria, de piedade, de compreensão. São um meio para dissipar a onda de suspeição e de medo que invade o mundo de hoje”.
O IV Janela Internacional de Cinema do Recife acontece até o dia 13 de novembro no Cinema São Luiz e no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco. Com uma programação extensa e sortida, faz uma retrospectiva do cineasta americano Stanley Kubrick. É uma maravilha ver na telona clássicos como Uma Odisséia no Espaço, O Iluminado, De olhos Bem Fechados. Para arregalar os olhos do público, o filme Febre do Rato, de Cláudio Assis, abriu a programação no Cinema São Luiz – sessão calorosa onde o diretor bradou, como um artista marginal, sobre o descaso com o Recife e a arte.
Com a intenção de interagir com a cidade e os transeuntes, o festival projetou um filme na parede do antigo Cinema Trianon, que fica na margem do rio Capibaribe, em frente ao São Luiz. O Trianon, de 1937, foi um dos primeiros prédios construídos na Av. Guararapes. Além de ser marco da arquitetura moderna, fica próximo de monumentos tombados, nos bairros de Santo Antônio e São José, e recebe proteção do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O Cachaça Cinema Clube preparou uma seleção de filmes cariocas, entre eles, Partido Alto (1976-82), de Leon Hirszman, feito com a colaboração de Paulinho da Viola. No sábado (12), a partir das 20h, curtas que ficaram fora da competição entram na programação e merecem ser vistos. São eles: Di Melo – O Imorrível, de Alan Oliveira e Rubens Pássaro (PE). Corpo Presente de Marcelo Pedroso (PE), Ela Morava na frente do Cinema, de Leonardo Lacca (PE) e Mens Sana in Corpore Sano, de Juliano Dornelles (PE).
As mamães e papais de plantão foram prestigiados nesta edição e poderão assistir com as crias, de oito a 12 anos, curtas nacionais e estrangeiros no Janelinha, próximo domingo (13), às 10h30, no Cinema da Fundação.
Gostei do amor no projetor nos fazendo enxergar inúmeras partículas, do público guloso do festival, da sinopse de As Neves de Kilimanjaro (Les neiges du Kilimandjaro), de Robert Guédiguian. Camila Pitanga vive romance no garimpo do interior do Pará no filme ‘Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios’, do cineasta Beto Brant – o longa é uma adaptação do livro de Marçal Aquino. Outro esperado é As Hiper Mulheres, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Tacumã Kuikuro (PE/2011).
O programa Sutjeska Film irá exibir uma coleção de 20 curtas metragens feitos nos anos 60 e 70 que retratam a vida, os costumes e os valores da sociedade iugoslava sob o regime comunista. Entre eles, Sonhadores, de Vefik Hadžismajlovi?, e A Missão de Ismet Kozica (1977), de Mirza Idrizovi, que retrata a transformação de camponesas em operárias do sistema.
O debate do [projetotorresgêmeas] confirmou o intuito de discutir os espaços urbanos e o festival, em geral, nos faz dar uma bela volta no centro da cidade. Os realizadores do Janela Internacional de Cinema estão de parabéns, o festival supera expectativas, interage com o público, ensina, aprende, premia, reprisa, apresenta, critica. Vida longa aos cineastas, ao público e ao Cinema São Luiz.
Serviço:
IV Janela Internacional de Cinema de Recife (www.janeladecinema.com.br)
De 4 a 13 de novembro, mais de 100 filmes com exibições no Cine São Luiz e no Cinema da Fundação
Ingressos: sessões de curtas – R$ 1 | sessões de longas – São Luiz R$ 4 e R$ 2 | Fundação R$ 8 e R$ 4
Informações: (81) 3032-4972 | janelacritica@janeladecinema.com.br