A poesia filosófica embriagante de Lírian - Lírian Tabosa (Foto: Divulgação)
Lírian Tabosa (Foto: Divulgação)

A poesia filosófica embriagante de Lírian

Matéria • 8 de março de 2015 • Belisa Parente

A poeta e cronista Lírian Tabosa nasceu no Ceará, na cidade de Limoeiro do Norte. Vive no Rio de Janeiro há muitos anos, chegou a Nova Iguaçu em 1956. Os primeiros sonetos, escritos aos 15 anos, foram inspirados em Castro Alves e Guerra Junqueiro. Na adolescência foi seduzida pela política e chegou a ser exilada na Bolívia por cinco anos, onde reencontrou Che Guevara, amor eterno e “muso” inspirador de muitos poemas- o primeiro encontro foi no Rio.

“VAMOS BEBER QUE A VIDA É UM LÍQUIDO!”, filosofa enfática a poeta que endossa o caldo do Desmaio Públiko, aglomerado de poetas da Baixada Fluminense – eles bebem a poesia embriagante de Lírian e fazem dela hino. A poeta foi a grande homenageada do Calendário Poético de Mané do Café de 2015, lançado habitualmente na Fliporto, em Olinda, dentro do Alt Fest Fliporto, evento organizado por Tuppan Poeta nas ladeiras do Sítio Histórico. Lírian tem seis livros publicados e participações em várias antologias pelo País. Eis um pouco da sua obra, organizada pelo poeta Cézar Ray, um breve exemplo de MULHER e crítica neste 8 de março de 2015:

*

Ai amor, não faça isso!
Ai amor, não faça!
Ai amor, não!
Ai amor!
Ai

*

Recordando

O Silêncio invadia uma noite sem fim.
De súbito ouvi
Uma música clássica
e nostálgica.

Que falava de uma alma
e parecia ser a minha!

Um cigarro acendi
e a fumaça se perdia
como meu pensamento

que não tinha a quem lamentar.

A não ser aos versos
vivendo dentro de mim
a se manifestarem!

E meu Ego se expandia
Como um grito de terror,
ou era o silêncio da noite
ou era a música que eu ouvia
ou era a sentença da vida
que me jogava à solidão

Sem ter de ninguém o amor…
Bebi, bebi tanto
Até deixar que saísse
Do meu pensamento
a criatura que amo.

Bebi, bebi demais
E não sei dizer
Como passei a noite.
Só sei dizer

Que no dia seguinte,

o meu cinzeiro estava cheio de cinzas
as garrafas vazias…
E uma caneta sobre um poema…

O Que Estava Debaixo da Caneta

Um dia eu amei!
Não igual a Deus
porque ele ama muito!

De repente – traída –
que tristeza!
Amei como ninguém…

Tudo acabado.
Não te quis mais…
Pois só Deus ama demais
e eu não amo igual a Deus!

Apenas te amei
Como ninguém!!

*

Coitado
Dos homens…
Sofrem tanto
Com as mulheres!

Pobres mulheres…
Sofrem tanto
Com os homens

E assim,
reclamando
terminam ambos
numa cama!

Maldita sejas tu, Oh Fome!

Maldita, seja tu,
Oh fome, que flagelas
nada mais que meio mundo.

Maldita, seja tu,
Causadora de roubos
crimes
prostituição

Maldita seja tu
Que por aqui continuas
Até a decisão
Das massas!

Malditas sejas tu.

Que quando te sentimos
Perdemos a fé
nos Santos e em Deus!

E a esperança
Nos homens que governam!

*

Enquanto se bebe
O líquido se impõe
e num relance
já com ele em sintonia
pode-se proclamar
em só grito:
VAMOS BEBER
QUE A VIDA É UM LÍQUIDO!!!!

Livros Publicados:

  • Libertas quae sera tamem – 1967 (publicado no exílio)
  • Lírian Tabosa x Moduan Matus – 1993
  • Pequena Mostra Poética – 1995
  • O Quarto – 1997
  • Umas e Outras – 2002
  • Lírios – 2009
  • De Lá para Cá – 2014 (uma auto biografia poética)

Links:

Mapa de Cultura da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro: http://mapadecultura.rj.gov.br/manchete/lirian-tabosa

Blog do Poeta Cézar Ray (fundador da fanzine Desmaio Públiko): http://www.zarayland.blogspot.com.br/2012/03/meu-povo-lirian-tabosa.html