Pernambuco, terra da ‘Massa’
Quando se aproxima a Marcha da Maconha, eu ouço a voz de D2 no meu ouvido: “Eu continuo queimando tudo até a última ponta. Eu continuo queimando tudo até a última ponta!”. Um super hit na minha adolescência, sabia todas as letras da Planet Hemp, desenhava folhinhas de maconha no cimento mole de casa – painho ficou puto. Perguntou: O que é isso? Aí eu disse: – O nome científico dela é tetraidronacabinol e ela se originou na África. Não perguntou mais nada, porém, por dentro… Com certeza, assinante antigo da Veja e Super Interessante, lembrou as matérias explicando tudo cientificamente. Depois, o caso de Soninha. A jornalista foi demitida da TV Cultura por dizer que fumava esporadicamente em uma entrevista à Revista Época.
Gente que você nem imagina faz bolos, comidos, às vezes, por empregadas inocentes que ficam doidonas. Outros fazem “peruana”, sopram tragadas da erva nos cachorros de casa para eles se acalmarem. Muitos fumam com o narguilê, inclusive em Jerusalém, fumavam na época das Cruzadas. Na China, desde 7000 a.C. – há referências da planta em um livro, herbário de um imperador. Outros usam para transcender, como os africanos etíopes, os rastafáris. Antes de o catolicismo surgir, eles faziam rituais com tambores, liam apócrifos e fumavam a ganja (termo usado para designar a maconha). Com base nas escrituras bíblica eles acreditam no uso espiritual da planta: “Deus disse: “Eis que eu vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente, para que vos sirvam de alimento”“ (Gênesis, 1 29). Bob Marley a popularizou com a música e a ideologia pacífica e positivista dos Rastas. O uso da maconha é ancestral, milenar. O cânhamo era usado para fazer cordas, tecidos, velas de barcos. Lembram do Adidas Hemp? Com fibra de cânhamo. Lindo. Um sucesso entre meninos e meninas do mundo.
Os brasileiros são muito contraditórios. A classe média e a classe A supervaloriza o exterior. Oh, morar fora! Oh, moda de Londres, EUA. É Cult. O primeiro mundo é um exemplo. Mas na hora de aceitar e debater a descriminalização da maconha, que já é legalizada na Holanda, no Canadá o parlamento recomendou ao governo a legalização, na Califórnia existe até universidade, a Oaksterdam University, continuamos com atitude de Brasil-Colônia. Deveríamos nos espelhar nesse sentido também, mas permanecemos com ignorância, medo, com preconceito, já que a maconha, como o candoblé e a capoeira, foi marginalizada.
Ninguém pode fumar maconha porque é proibido. E esse é um dos medos dos pais dos usuários, já que a polícia pinta e borda quando pega alguém fumando um fininho. Lá fora a maconha é usada para tratamentos de saúde – glaucoma, estresse, tratamento de HIV, quimioterapia, como analgésico. Daniel, um amigo que morou boa parte da vida em Boston, dizia sempre quando alguém falava que estava com uma dor: “Fuma um que passa”. Muitos na época, diziam: “Isso é papo de maconheiro”. É, realmente, é papo de maconheiro que tem acesso à informação.
A dependência causada pela maconha é mínima, comparada ao cigarro, ao álcool, cocaína (a droga mais silenciosa e mais usada pelas classes de maior poder aquisitivo) e ao crack – considerado, por mim, a besta do apocalipse. Alerto que cada organismo é um organismo único. Deixo claro que defendo a descriminalização; para defender a legalização é preciso um suporte do governo nas políticas de conscientização social, de muitos debates, de estrutura. Falando em debates, os meninos do Cine Massa, Chico e Flávio, passaram o mês exibindo filmes e promovendo discussões sobre a descriminalização – uma ótima iniciativa. Tribunais de justiça vêm impedindo a realização da Marcha da Maconha em várias cidades, inclusive em São Paulo, no começo ano. Recife, a “TERRA DA MASSA” dos artistas e do povão, continua arrastando uma multidão, que se concentrará na Rua do Apolo, Recife Antigo, ao lado do Bar Furgão, no dia 2 de maio, às 14h.
Francisco Nascimento, psicólogo, entrevistado pelo portal JC Online. Vídeo publicado no Blog do Jamildo.
Confiram a entrevista esclarecedora que Drauzio Valerra fez com Dr. Elisaldo Carlini – médico psicofarmacologista. Trabalha no CEBRID, Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas, e é professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo.
Confira abaixo o cartaz do evento e o lambe lambe para a festa